segunda-feira, 2 de junho de 2008

A Direita se Perdeu

Os 20 anos de ditadura militar e os reflexos do período na sociedade brasileira, somados a uma seqüência de governos auto-intitulados "de esquerda" - em especial os dois mandatos consecutivos de Luiz Inácio Lula da Silva, marcados pela alta popularidade do chefe de governo e pela bandeira dos programas sociais - provocaram um radical encolhimento no espaço ocupado pela direita no espectro partidário do país.

Nos Estados Unidos pós-11 de setembro e na União Européia o conservadorismo voltou ao poder, quatro décadas depois do emblemático ano de 1968, auge da resistência ao regime militar, em nível nacional, e dos protestos ligados a movimentos de esquerda, em todo o mundo. No Brasil, esse mesmo pensamento murchou. E empobreceu o debate político. Ao menos no que diz respeito à representação partidária, à sua presença dentro do Congresso.

"De repente, ninguém é de direita, todo mundo é 'centro'" - ironiza o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), ele mesmo um dos raros baluartes da chamada extrema-direita no Parlamento.

Pejorativo
A carga pejorativa sobre a direita em comparação à celebração da esquerda seria, em parte, reflexo da ditadura militar, acredita o deputado. Direita era quem estava a favor do regime autoritário e anti-democrático. Já a esquerda ficou identificada com quem se opôs ao comando implementado pelo golpe de 1964, defendeu os direitos humanos e filosofou sobre programas sociais. Muito embora esse bloco tenha pegado em armas para lutar pela ditadura do proletariado, observa Bolsonaro.

" Esse pormenor, entretanto, é esquecido e a idéia que se passa é que os esquerdistas, na época, defendiam a democracia. Nada mais incorreto" - reclama o deputado.

A mudança de nome do Partido da Frente Liberal (PFL) que, no ano passado, mudou seu nome para Democratas (DEM), ilustra a resistência que políticos brasileiros têm, hoje, em assumir uma orientação mais inclinada à direita do espectro ideológico. Mesmo mantendo intactos a estrutura partidária, ideário e principais líderes, a legenda antes conhecida como PFL mudou para se livrar da imagem ligada à direita - mais particularmente com a Arena, partido que serviu de sustentáculo do regime militar, nos anos de chumbo - e com o liberalismo. Expurgado do nome da legenda, mas ainda defendido por ela.

Para Dom Bertrand de Orleans e Bragança, membro da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Prosperidade (TFP) e coordenador do movimento Paz no Campo, contraponto ruralista ao Movimento dos Sem Terra (MST), a transformação do PFL em DEM dá a medida do vácuo que existe na representação política do pensamento conservador.

"Não há no Congresso, hoje, nenhum parlamentar que possa ser considerado como um expoente do pensamento de direita" – acredita Dom Bertrand.

Segundo ele, muito dessa ausência do pensamento conservador no Parlamento é reflexo do que seria uma tática da esquerda de colar na direita a identificação com movimentos como o nazismo e o fascismo.

"O que é uma total inverdade" – argumenta.

"O nazismo sempre foi uma expressão do socialismo, do comunismo. Este sim um regime que matou milhões de pessoas em todo o mundo. O resultado dessa contra-propaganda de esquerda foi o gradual esvaziamento da direita na representação partidária. Os políticos hoje podem até defender a livre iniciativa, a propriedade privada e o Estado mínimo. Mas tem vergonha em assumir essas bandeiras como pensamento conservador".

por Karla Correia, no JB Online, em 01/06/2008


É. Esta é a mais pura verdade, como disse Marcos Pinho de Escobar, no Alameda Digital: "A Direita mole é a Direita que convém à Esquerda. É a Direita que não serve." Vejamos lá o que ele nos diz:
Esquerda, Direita…

Nunca é demais recordar que a clivagem esquerda-direita tem origem histórica na Assembléia Constituinte da França revolucionária (1789-1791). Reunida pela primeira vez na sala retangular do Manège, no palácio das Tuileries, os deputados adotaram uma distribuição espacial em função de sua posição relativamente à questão do veto real. À direita do presidente colocaram-se os partidários do veto; à esquerda os seus opositores. A partir de então as diferentes tendências políticas passaram a agrupar-se segundo esta clivagem inicial. A revolução da liberdade, da igualdade e da fraternidade dava os seus primeiros passos. Mais adiante coube a uma afiada guilhotina definir com precisão cirúrgica a trilogia revolucionária e aplicá-la com decisão ao Trono, ao Altar e aos defensores da Tradição.

Há mais de dois séculos que esta “grande dicotomia”, como lhe chama Bobbio, vem sendo utilizada para classificar as posições ideológicas que habitam o mundo – necessariamente conflituoso – do pensamento e da ação. O fim da Grande Guerra em 1945 levou à criminalização da Direita autêntica, contra-revolucionária, se se quer, enquanto a Esquerda, em todas as suas vertentes, era premiada com garantias de eterna respeitabilidade. Estava aberto o caminho para a criação de uma falsa Direita tolerada pela verdadeira Esquerda. Trata-se da Direita Mole.

A Direita mole é aquela que sucumbiu à Revolução e aceita todos os seus “dogmas”. Da defesa do Trono e do Altar, da Ordem e da Tradição, a Direita mole passa à defesa da República. É a Direita que alinha com a vigarice democrática. É a Direita embevecida com a falsa trilogia liberdade-igualdade-fraternidade. É a Direita encantada com a ditadura da aritmética a substituir a noção da Verdade e do Erro. É a Direita que colabora direta ou indiretamente com a destruição da Lei Natural. É a Direita para quem os chavões demo-liberais valem mais do que a integridade do corpo nacional. A Direita mole é aquela que deixou para trás o princípio da unidade e passou a crer firmemente na fragmentação nacional operada pelo sistema de partidos – e no clima de permanente guerra civil daí resultante.

Complexada e covarde a Direita mole curva-se à hegemonia da Esquerda e permite que essa lhe defina o espaço e a atuação. É a Direita que endossa a demagogia. É a Direita que aceita a agenda imposta pela Esquerda e que se limita a questionar – com pezinhos de lã, já se vê – temas de segundo ou terceiro plano. É a Direita que se apressa a incorporar as posições da Esquerda, com alguma variação de matiz, é certo, para não perder o comboio da modernidade, ganhar pontos de popularidade, ficar de bem com os media.

A Direita mole sente imenso pavor diante da possibilidade de ser rotulada “Direita” e experimenta um dulcíssimo alívio quando é tratada por “Centro”. Por vezes, quando alguma figura da Direita mole ousa pisar fora dos carris que lhe foram assignados, basta que a Esquerda ameace com a variante “Extrema-Direita” – logo igualada ao fascismo e ao nazismo – e o atrevido recolhe-se. É a Direita que tem medo da Esquerda e que não ousa dizer em alto e bom som as coisas que uma grande parte da população – quiçá a sua maioria – pensa, mas não se atreve a dizer.

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