quarta-feira, 4 de junho de 2008

Guerrilheiros da Corrupção 2: Fim da CPI dos Cartões Corporativos

O relatório final apresentado à CPI dos Cartões Corporativos nesta terça-feira, o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) isenta todos os ministros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusados de irregularidades no uso dos cartões de suprimentos. Por outro lado, Sérgio cobra explicações sobre despesas irregulares à CGU (Controladoria Geral da União) ou ressarcimento do montante utilizado aos cofres públicos para ex-ministros da gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Sérgio afirma, no texto, que o ministro Orlando Silva (Esportes) e a ex-ministra Matilde Ribeiro (Igualdade Racial) usaram "por engano" o cartão corporativo para o pagamento de uma tapioca e compras em um free-shop, respectivamente.
"A ex-ministra adquiriu produtos em um free-shop com o cartão de pagamento. Essa compra, no valor de R$ 461,16, segundo revelou a senhora Matilde, foi feita por engano. Ela acreditava usar o seu cartão de crédito pessoal", afirma o relator.
Em relação à tapioca de R$ 8,30 adquirida pelo ministro dos Esportes com o cartão, Sérgio argumenta que ele já havia devolvido os recursos ao governo federal em outubro de 2007, "muito antes da divulgação do fato pela imprensa".
Segundo o relator, o ministro usou irregularmente o total de R$ 8.378,37 com o cartão corporativo para o pagamento de refeições e hospedagens. Como Silva devolveu aos cofres públicos cerca de R$ 34 mil, o relator sugere que o ministro seja ressarcido em R$ 26 mil.
Já em relação ao uso irregular do cartão pelo ministro Altemir Gregolin (Pesca), Sérgio afirma que ele foi vítima de um "equívoco" divulgado pela imprensa ao pagar um almoço em uma churrascaria de Brasília com o cartão corporativo.
"O caso do ministro Gregolin é singular: apenas um equívoco devido ao pagamento de um almoço a uma delegação chinesa provocou a sua vinda à CPI. Foram quase R$ 500, já devolvidos aos cofres da União", afirma Sérgio no relatório.
O relator cumpriu a determinação de não sugerir indiciamentos de nenhuma autoridade ou ministro suspeito de mau uso dos cartões corporativos.
Sérgio apenas sugere, em relação a ex-ministros da gestão Fernando Henrique Cardoso, que justifiquem suas despesas irregulares junto à CGU (Controladoria Geral da União) sob pena de devolverem os recursos aos cofres públicos - como Raul Jungmann (Reforma Agrária), Martus Tavares (Planejamento) e Pimenta da Veiga (Comunicações).
Em relação ao ex-ministro Paulo Renato Souza (Educação), Sérgio sugere que os "órgãos competentes" façam a análise das contas do agora deputado tucano porque foram diagnosticadas uma série de irregularidades como o pagamento de despesas com transporte e diárias com cartão corporativo.
"A análise dos documentos em posse desta CPI indica que há diversos processos de prestação de contas aprovadas desprovidas de qualquer nota fiscal ou documento que justifique o gasto", afirma o texto de Sérgio em relação aos gastos de Paulo Renato.
No relatório final, Sérgio afirma que o ex-ministro Pimenta da Veiga (Comunicações) usou o cartão corporativo em março de 2001 para comprar um "tucano de pedras de quartzo azul e quartzo verde", no valor de R$ 48,90.
O ex-ministro Raul Jungmann (Reforma Agrária), por sua vez, usou o cartão, segundo o relator, para o pagamento de uma massagem no valor de R$ 60,00, além do pagamento de "reparos" em oficinas mecânicas e despesas com alimentação em Brasília - o que é proibido pela administração federal.

Justificativa
Apesar de adotar tons distintos no texto sobre os gastos dos ministros da gestão FHC e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Sérgio afirma no relatório que adotou o máximo de "isenção possível" para analisar irregularidades no uso dos cartões corporativos entre os anos de 1997 e 2007.
"O que se quer demonstrar neste relatório é que os problemas identificados, tanto em prestações de contas tipo B quanto de cartões de pagamento, referem-se, na maioria dos casos, a erros ou enganos simples e remediáveis. Pode-se afirmar que, por extensão, esses defeitos devem se fazer presentes em muitas outras prestações de contas de quase todos os órgãos do governo federal", afirma no texto.

Por Gabriela Guerreiro, na Folha On Line

Já sabemos todos, a esta altura, a que se devia esta CPI: investigar os gastos irregulares dos membros do governo PT. E do governo FHC, que criou os tais cartões corporativos. A certa altura, vimos no que deu: "Estela", ops, Dilma Rousseff e sua secretária-de-guerra, Erenice, preparando um dossiê para a base aliada ferrar, literalmente, SOMENTE o governo FHC - e defendendo com unhas e dentes o sigilo do molusco apedeuta e sua "famiglia".
Para comentar mais este "grand finale", Josias de Souza:

"O relator da CPI dos Correios, Luiz Sérgio (PT-RJ), apresentou o seu relatório final. O colega Vic Pires (DEM-PA) chamou-o de “pateta”.
Gratuita a agressão. Faltou sofisticação ao deputado ‘demo’. O texto do relator tem inegável valor. Um valor literário.
Bem verdade que Luiz Sérgio não enxergou irregularidades nos cartões corporativos. Mas a analogia com o mundo de Disney é inapropriada.
O deputado petista aproxima-se mais do universo de George Orwell. Seu relatório é um belo exemplo do “doublespeak” de que falou Orwell no seu livro “1984”.
O texto de Luiz Sérgio é guiado pela lógica segundo a qual a verdade do poder não depende dos fatos. É doublespeak em estado latente.
O doublespeak da velha União soviética fazia desaparecer personagens de fotografias. Para não permitir que as versões convenientes fossem desmentidas.
Dotado de um mínimo senso de ridículo, Luiz Sérgio não ousou apagar os fotografados. Preferiu
retocar a fotografia à sua maneira.
Ministros de Lula foram ao porta-retratos do relator algo esmaecidos. Não trazem na face o rubor da culpa. Auxiliares de FHC foram pintados em cores vivas. São devedores de explicações. Para o relator, de resto, o erro está mais no
cartão do que nos seus usuários.
Parlamentares oposicionistas pediram vista do relatório de Luiz Sérgio. Desejam analisá-lo com vagar. Depois, vão redigir um texto
paralelo.
O signatário do blog recomenda cuidado aos leitores de Luiz Sérgio. Muita gente gosta de ler na cama.
Coisa arriscada no caso do texto final da CPI. A peça do relator tem 936 páginas.
Quem for para a cama acompanhado do calhamaço flertará com o risco de afundamento do esterno –aquele osso situado na parte anterior do tórax, que se articula com as clavículas e as cartilagens das sete primeiras costelas.
Aqueles que sobreviverem à aventura literária decerto ficarão deliciados com o texto. O autor passeia por entre a ironia, o sarcasmo e o cinismo.
Não é obra de um pateta o relatório final da CPI. Não, não. Absolutamente. É obra de quem sabe bem o que faz. Muito bem, aliás."

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