segunda-feira, 23 de junho de 2008

O Grande Terror

A época do Grande Terror na União Soviética bem como a teoria e prática comunista já foram objeto de inúmeros artigos e livros. Sobre o assunto, a literatura é inesgotável. A biblioteca da Universidade de Harvard, nos EUA, lista mais de 20 mil volumes dedicados exclusivamente a esses temas.
Portanto, nunca será demais recordar o que ocorreu quando da implantação do comunismo na Rússia, transformada em União Soviética em 1924, e fundamentalmente a época do Grande Terror, na década de 30.
Uma das características principais do genocídio comunista, em particular na antiga URSS, foi a quase inexistência de provas visuais sobre os horrores cometidos contra a população, favorecendo a confortável postura de muitos simpatizantes do socialismo em negar a existência das atrocidades comunistas por "falta de provas materiais". Recomenda-se aos leitores visitar o site
RedHolocaust, onde poderão acessar fotos chocantes das chacinas perpretadas pelo regime comunista soviético, em especial os massacres de prisioneiros políticos cometidos pela polícia secreta russa, a única instituição realmente familiarizada com a realidade soviética, chamada, sucessivamente de Cheka (1917-1922), GPU e OGPU (1922-1934), NKVD (1934-1954) e KGB (1954-1991).
Em seu auge, em 1937 e 1938, pelo menos um milhão e meio de pessoas foram arrastadas aos tribunais constituídos pelos primeiros-secretários regionais do Partido Comunista, os procuradores e chefes de segurança locais. Após os processos sumários, existiam três alternativas: os réus eram condenados à morte, a trabalhos forçados ou ao exílio.
No auge do Grande Terror, o Politburo emitiu “cotas” às autoridades policiais, instruindo-as sobre as percentagens da população que, em seus distritos, deveria ser morta e que percentagem deveria ser enviada para os campos de trabalhos forçados (“gulags”). Por exemplo, em 2 de junho de 1937, foi enviada uma cota de 35 mil pessoas a serem “reprimidas” em Moscou, das quais 5 mil deveriam ser mortas. As pessoas eram incluídas nessas cotas simplesmente por serem consideradas “difíceis de controlar e propensas a se envolverem em sabotagem”.
O quanto esse expurgo afetou a elite do partido pode ser constatado no fato de que dos 139 membros do Comitê Central eleito no 17º Congresso do PCUS, em 1934, 70% foram executados.
Na era Stalin, todos os que foram companheiros mais próximos de Lênin foram presos, torturados e depois aniquilados física e mentalmente. Foram obrigados a se submeter à encenação de “julgamentos”, nos quais confessaram os crimes de espionagem, atos terroristas e tentativas de “restaurar o capitalismo”. Depois disso, foram executados ou enviados aos “gulags”. Em seu chamado “testamento”, Lênin listou seis importantes dirigentes comunistas como seus potenciais sucessores. Todos, exceto um – Stalin – morreram.

Dmitri Volgokonov, general soviético que tornou-se historiador, ficou, segundo suas próprias palavras, “profundamente abalado” quando descobriu, nos arquivos liberados após o fim da União Soviética, 30 listas datadas de um único dia, 12 de dezembro de 1938. As listas continham os nomes de cerca de 5 mil pessoas cujas sentenças de morte Stalin havia assinado antes mesmo de serem formalmente julgadas.
De uma forma ou de outra, a maioria da população foi impelida a participar dessa orgia destrutiva, delatando amigos e conhecidos, pois não revelar uma “conversa subversiva” significava “subversão” - como o faz, até hoje, Fidel Castro e como tentou fazer Hugo Chávez com sua "Lei do Sistema Nacional de Inteligência e Contra-Inteligência".
Os massacres de 1937-1938 aniquilaram as fileiras dos “antigos bolcheviques” e seus lugares eram logo tomados pelos recém-chegados. Em 1939, 80% do pessoal executivo do Partido Comunista da União Soviética havia chegado ao partido após a morte de Lênin. De suas fileiras, saíram os funcionários do alto escalão do partido e do governo, a chamada “nomenklatura”, que não apenas monopolizou todas as posições de mando como também usufruiu exclusivamente de privilégios, constituindo-se, assim, em uma nova classe exploradora.
Pertencer à “nomenklatura” era garantia de um status permanente e ela tornou-se hereditária. Quando a União Soviética foi desfeita, em 1991, a “nomenklatura” era constituída por aproximadamente 750 mil membros e, com suas famílias, cerca de 3 milhões de pessoas (aproximadamente 1,5% da população). Igual à proporção de nobres durante o czarismo, no século XVIII.

O Exército Vermelho não escapou ao terror: depois de todas as atrocidades cometidas, atingindo desde dirigentes do Politburo ao mais simples cidadão comum, que, pelo simples fato de sair à rua para comprar cigarros sem o devido “passaporte”, flagrado nessa situação, foi condenado e fuzilado para completar as “cotas de eliminação de elementos contra-revolucionários” fixadas por Stalin, chega a vez dos militares, uma das categorias mais duramente afetadas.
Julgamentos a portas fechadas levaram à condenação à morte o Marechal Tukhatchevski, Comissário Adjunto para a Defesa, e mais sete generais de exército. isto porque Stalin, como seu companheiro ditador, Adolf Hitler, valorizava a lealdade, ortodoxia e subserviência intelectual e as idéias inovadoras de independentes de Tukhatchevski o perturbavam. O único assessor militar aproximado a ele, Comissário K.E. Voroshilov, encorajava os preconceitos de Stalin a este respeito. Voroshilov era um camarada sem imaginação que executava ordens sem questionar. Ele se ressentia do brilho intelectual porque ele ressaltava suas próprias habilidades limitadas como comandante. Como um resultado, Voroshilov avidamente repetia os rumores de uma conspiração militar centrada em Tukhachevsky. Os serviços anteriores de Tukhachevsky sob Trotsky e sua longa visita passada à Alemanha davam alguns resquícios de fato para apoiar as alegações que ele um espião trotskita ou alemão.
E isso foi só o começo: pelos próximos quatro anos, até a invasão alemã, os oficiais soviéticos desapareceram com uma freqüência alarmante. De um total estimado de 75.000 a 80.000 oficiais nas forças armadas, pelo menos 30.000 foram encarcerados ou executados (no período 1937/1938 foram presos ou expulsos do exército 35.020 oficiais, não sendo definido, até hoje, o número dos que foram executados). Incluíam três de cinco marechais; todos os 11 Comissários Adjuntos de Defesa; todos os comandantes de distritos militares; os comandantes e chefes de estado maior da Marinha e da Força Aérea; 14 dos 16 comandantes de exército; 60 dos 67 comandantes de corpo; 136 de 199 comandantes de divisão; 221 dos 397 comandantes de brigada; e 50% de todos os comandantes regimentais. Outros 10.000 oficiais foram demitidos em desgraça.
O Clero também sofreu perdas devastadoras: em 1937-1938, 165.200 membros da Igreja foram presos pelo “crime” de praticar a religião e, desses, 106.800 foram mortos.
Andrei Gromyko, ministro do Exterior de Stalin, relatou que dois ou mais membros do Politburo nunca andavam no mesmo carro, com medo de se tornarem suspeitos de “conspiração”.
Segundo evidências extraídas dos arquivos secretos, durante 1937 e 1938, quando o Grande Terror estava no auge, os órgãos de segurança detiveram, por supostas “atividades anti-soviéticas”, 1.548.366 pessoas, das quais 681.692 foram mortas. Ou seja, uma média de mil execuções por dia. A maioria dos sobreviventes terminou seus dias em campos de trabalhos forçados.

Diferentemente do que querem os esquerdistas brasileiros, com relação aos crimes de tortura e execução cometidos pela ditadura brasileira, nenhum responsável por esses crimes foi levado a julgamento ou preso depois que a União Soviética se desfez. Por um simples motivo: não se sabia com quem ficariam as chaves das prisões e em ninguém se confiava.
A morte de Stalin, em 1954, deixou seus sucessores perplexos, pois sentiram que teriam que repudiar o ditador demente e suas políticas assassinas, mas precisavam preservar o sistema que ele gerou e geriu por quase 30 anos e do qual todos fizeram parte. Resolveram o problema relacionando o comunismo com Lênin e, em 1956, em um discurso secreto no 20º Congresso do PCUS, o primeiro após a morte de Stalin, Nikita Kruschev, o novo Secretário-Geral ”denunciou” os crimes de Stalin.
Como resultado dessas revelações Stalin transformou-se, da noite para o dia, em um ninguém. Seu corpo foi removido do mausoléu que partilhava com Lênin, Stalingrado passou a chamar-se Volvogrado e, com a eficiência que a burocracia soviética sempre se orgulhou, seus inúmeros retratos, estátuas e lugares que levavam seu nome desapareceram. Foi como se as três décadas de seu governo não tivessem existido.
Nada disso é "história de reacionário", de "golpista" ou coisa parecida, como costumam ser tratados pelos esquerdistas e pela imprensa infestada por este vírus, os que mostram os crimes comunistas pelo mundo. É História, calcada em documentos, apoiada em ampla consulta nas mais variadas fontes, inclusive, básica e principalmente, russas.

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