quinta-feira, 5 de junho de 2008

XIV Foro de São Paulo

O XIV Encontro do Foro de São Paulo (FSP) encerrado no domingo 25 de maio pp., pretendeu parecer ao mundo que estava vivendo uma nova etapa, de "refundação", considerando que, com a morte dos principais líderes do bando narco-terrorista e as revelações que estão sendo feitas a partir dos computadores de Raúl Reyes, urgia desvincular a imagem do FSP e dos países membros desta organização com as FARC.
Nesses 18 anos de atividades o FSP obteve incontáveis lucros, sobretudo em relação aos 12 países agora governados por seus membros. Em entrevistas e até mesmo nas resoluções finais deste último Encontro - com exceção dos inflamados discursos onde predominou os bolorentos chavões de "abaixo o imperialismo", "não ao embargo norte-americano a Cuba" e de demonizar categoricamente o governo do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, como "invasor e desestabilizador da região" -, os textos são todos muito light e inofensivos.
O Secretário de Relações Internacionais do PT e Secretário Executivo do FSP, Valter Pomar, em entrevista ao jornalista da Veja, Diogo Schelp, negou categoricamente a vinculação das FARC ao Foro, alegando que só na década de 90 eles participavam dos Encontros. Isto é mentira e ele sabe que mente. Em 30 de julho de 2007, as FARC publicaram em seu site (indisponível desde a morte de Raúl Reyes) uma carta dirigida a "Nossos companheiros da Mesa Diretora do Grupo de Trabalho do Foro de São Paulo", em que inicia dizendo: "Nos reunimos em um momento muito importante para o avanço político e social de nosso Continente". E em 11 de março deste ano – com Raúl Reyes já morto e os segredos dos seus computadores sendo descobertos para o mundo inteiro – o jornal mexicano El Universal informou que as FARC haviam sido convidadas para uma reunião do Grupo de Trabalho (GT) do Foro de São Paulo na cidade do México, para definir a agenda do XIV Encontro, porém não chegaram a participar porque o governo mexicano já não lhes concede vistos desde 2002, por determinação do ex-presidente Vicent Fox.
O Coordenador do Partido do Trabalho do México, deputado Ricardo Cantú, reconheceu que seu partido tem vínculo com as FARC, afirmando a respeito desse encontro de 11 de março que "os grupos guerrilheiros não tiveram a sorte de chegar a acordos de paz e participaram de foros de esquerda, e não nos pediram que retirássemos sua assinatura das convocatórias em outros espaços de debates", ou seja, não puderam enviar representantes mas permanecem vinculados ao FSP como membros.
E a mídia brasileira, que nesses 18 anos nunca deu um pio em relação a esta organização criminosa, agora dedica páginas sem conta sobre o tema FARC-FSP como se este fosse um tema recorrente em suas redações. Contudo, apesar de todo o falatório e estardalhaço, o que eles fazem – sobretudo a Folha de São Paulo e o jornal O Globo – é blindar cada vez mais o governo do Sr. Luis Inácio e seu partido PT pois, ao mesmo tempo em que "denunciam", retiram a responsabilidade ou mostram uma ação contrária do sr. Lula em relação às solicitações do Secretariado das FARC. Vejam algumas pequenas amostras disso:
No artigo datado de 31 de maio, a Folha de São Paulo traz matéria com o título: "PT barrou as Farc em foro da esquerda em São Paulo". Nele, é informado que na comemoração dos 15 anos de fundação do Foro as FARC foram impedidas de participar e que Oliverio Medina, embaixador das FARC no Brasil, teria solicitado a intervenção do professor de Direito Internacional da PUC-SP e membro do Partido Comunista da Colômbia, o advogado colombiano Pietro Lora Alarcón, e que este não obteve sucesso porque a Comissão Executiva do Foro rejeitou o pedido. Segundo a reportagem da Folha, o "chanceler" das FARC, Rodrigo Granda, refere-se a Pietro Alarcón como "camarada Pietro Lora" embora este negue qualquer vínculo com as FARC. Na mesma reportagem o jornal refere-se a este fato como "tentativa frustrada" das FARC, isentando Lula, o PT e o FSP de envolvimento com o bando terrorista. Ora, há que considerar que naquela ocasião não convinha, estrategicamente falando, permitir que Oliverio Medina participasse de um encontro em que, pela primeira vez desde sua fundação, Lula admitia a existência e dava o sinal verde para a mídia citar a organização. Além disso, o governo da Colômbia já havia solicitado a extradição de Medina e o governo estava vendo de que modo poderia atender, não ao pedido legítimo de Álvaro Uribe mas ao do seu "camarada", que finalmente logrou êxito em 2007 e hoje vive folgadamente no Brasil como "refugiado político".
A revista Época, por sua vez, dedica quatro páginas de sua edição nº 524, de 2 de junho, com o título "De Raúl Reyes para Lula". Na sua edição impressa (cujo texto é diferente da publicação on-line) a matéria diz nos primeiros parágrafos: "Até meados dos anos 90, as FARC participaram oficialmente do Foro de São Paulo, um conclave de partidos e organizações de esquerda da América Latina do qual o PT faz parte. Mas as relações com as FARC, segundo o PT, foram rompidas depois que elas abandonaram, a partir de 2002, as negociações para um acordo de paz na Colômbia..." (...) "O governo Lula diz jamais ter tido qualquer tipo de contato com a organização, classificada como terrorista pelos governos da Colômbia, dos Estados Unidos e da União Européia".
Em primeiro lugar, o PT "não faz parte" do Foro de São Paulo mas é o fundador e o principal membro até os dias de hoje. Em segundo lugar, quanto à afirmação de que as FARC abandonaram o Foro em 2002, já foi desmentido acima. Em terceiro lugar, quando a reportagem diz que "O governo Lula diz jamais ter tido qualquer tipo de contato com a organização", ela pensa estar defendendo o governo quando na realidade não percebe ou não sabe fazer a leitura correta, que é óbvio que, enquanto Governo, enquanto chefe de Estado, o sr. Lula não poderia admitir, assumir ou querer envolvimento com uma organização classificada como terrorista.
Ainda na edição impressa, a reportagem da revista Época faz referência a três cartas escritas por Raúl Reyes e dadas pessoalmente ao vereador Edson Antônio Albertão que pertencia ao PT e hoje milita pelo PSOL, para serem entregues a Lula. Segundo a revista, Albertão entregou as cartas ao senador Suplicy, que repassou para Frei Betto com a incumbência de fazer chegar ao destinatário mas, - ainda segundo a revista -, Marco Aurélio Garcia e Lula afirmam que estas cartas nunca foram entregues. Este vereador Albertão tem um site, e lá é possível ver vários banners, inclusive o das FARC, com notícias divulgadas pelo antigo site da narco-guerrilha e pela reprodutora dos informes deste bando chamada ANNCOL. Este Albertão orgulha-se de ter sido amigo pessoal de Raúl Reyes e seu interlocutor oficial no Brasil, tendo feito inclusive curso de guerrilha e atualmente ser integrante da Coordenadora Continental Bolivariana (ver também Círculos Bolivarianos - Coordenadora Continental Bolivariana).
E Pietro Alarcón, que foi contatado por este vereador Albertão para interferir no caso do pseudo-padre Oliverio Medina e diz não ter qualquer contato com as FARC, também mente, pois em matéria publicada no site de esquerda Inverta, consta que ele participou do II Congresso do "Movimento 5 de julho" para a refundação do Partido Comunista Marxista-Leninista entre os dias 24 a 27 de março de 2000, ao lado do "camarada" Hernán Ramirez membro da Secretaria Internacional das FARC. Segundo o site Inverta, as FARC foram homenageadas neste congresso através de uma recepção organizada pelo centenário comunista Oscar Niemayer. Curiosamente, os artigos do professor Alarcón são publicados nos sites "Correio da Cidadania", vinculado ao PT, e no do vereador do PT por São Paulo, Carlos Neder.
Por sua vez, a organização terrorista e hoje partido político de El Salvador, Frente Farabundo Martí de Liberación Nacional (FMLN) – membro do FSP - também vem sendo apontada como tendo vínculos com as FARC, desde pelo menos 2003. Dentre as correspondências encontradas nos computadores de Raúl Reyes, consta que José Luis Merino, herdeiro político do falecido líder Schafik Handal, teria atuado como intermediário entre dois traficantes de armas australianos e as FARC; que Merino pertence à cúpula da Continental Bolivariana e que, em troca de dinheiro para a campanha presidencial de Handal, ofereceu às FARC ex-combatentes treinados no Vietnã. O atual candidato à presidência de El Salvador pelo FMLN é Mauricio Funes, e já recebeu o apoio do presidente Lula e do Foro de São Paulo.
Todo o cuidado que o GT teve em apresentar ao mundo um encontro entre pessoas equilibradas, cheias de bons propósitos e preocupadas com a "paz na Colômbia" caiu por terra, ao ser anunciado oficialmente que o fundador das FARC, Manuel Marulanda "Tirofijo", havia morrido no dia 26 de março, de um enfarte.
Daniel Ortega, a quem coube fazer a palestra de encerramento do XIV Encontro, deixou cair a máscara e condecorou "ex"-guerrilheiros tupamaros com a Ordem Carlos Fonseca – fundador da Frente Sandinista de Liberación Nacional (FSLN) – exaltando as figuras revolucionárias de José Mujica, Eleuterio Fernández Huidobro e Julio Marenales, além de uma homenagem póstuma a Raúl Sendic. Em suas palavras de encerramento, Ortega referiu-se a Tirofijo como "nosso irmão Manuel 'Marulanda' Vélez" e prestou-lhe uma homenagem na qual finalizava dizendo: "Que autoridade pode ter o regime colombiano, os yanques ou os europeus para dizer quem é terrorisra e quem não é?" (...) "Eu quero expressar minhas condolências, minha solidariedade, para com as FARC e para com a família do comandante 'Marulanda', um lutador extraordinário, que vem batalhando há longos anos, como guerrilheiro, como a luta mais longa na história da América Latina e do Caribe".
Agora toda a imprensa quer "denunciar" o envolvimento do PT e do FSP com as FARC mas, por que não cita estes fatos? Por que faz de conta que está cumprindo seu papel de informar com isenção, quando na verdade o que faz é "branquear", colocar numa bela embalagem de presente um pacote de lixo fétido? É exatamente porque serve como "companheira de viagem" que esta mídia está divulgando essas matérias livremente, sem qualquer tipo de censura pois, ao contrário do que parece, está cada vez mais ajudando os propósitos do Partido-Estado e do Foro de São Paulo com sua brincadeira de "faz-de-conta". A prova disso é que, não permitindo a entrada de Oliverio Medina no encontro em que se comemorava os 15 anos do FSP, o governo do sr. Lula guardava algo melhor para o camarada: deu-lhe o status de "refugiado político" e um formidável emprego à sua mulher no Ministério da Pesca, conforme denúncia – já confirmada pelo governo – de Diogo Mainardi na Veja desta semana. Curiosamente, este XIV Encontro do Foro de São Paulo ocorreu no prédio do Mercosul...

por Graça Salgueiro, no Mídia Sem Máscara

Nenhum comentário: