terça-feira, 19 de maio de 2009

In Statu Quo Ante Bellum

Ontem, liberei um comentário de uma pessoa chamada Kelly Braga, num dos posts em que falo sobre o exacerbado racismo de Karl Marx. Escreve-me ela:


"No sistema capitalista os grupos minoritários estão melhor? Pessoa como você não se importam com eles, só querem a manutenção do status quo."


Kelly, cearense de Itapipoca, é professora formada em pedagogia, especialista em espaço, desenvolvimento e meio ambiente. Atualmente está cursando biologia pela FACEDI/UECE e ensina sociologia e filosofia no ensino médio. Diz-se dedicada aos estudos e à profissão.


Bem, Kelly, quer-me parecer que talvez você não seja assim tão dedicada aos estudos - inda mais à sociologia e à filosofia, que diz ensinar às pessoas.


Não sei o que você quer dizer com "sistema capitalista" - muito provavelmente o que todos os militantes esquerdistas querem dizer, achando que o mercado é uma ideologia, como o é o socialismo, sendo este a "salvação da lavoura". Mas, sim, os grupos minoritários estão melhores, socialmente, do que estavam há anos atrás - afinal, é o mercado (o sistema capitalista) que tem gerado empregos neste país (e sempre foi), devido à demanda que outros capitalistas, consumidores que são, geram às empresas produtoras de bens e serviços.


Quando você diz que "pessoas como eu não se importam com eles [os grupos minoritários]", está incorrendo num erro crasso - o mesmo tipo de erro que todos aqueles que conhecem somente a ponta do iceberg chamado socialismo acabam incorrendo!


Não, Kelly! Pessoas como eu, que têm ideais liberais-conservadores, importamo-nos com "os grupos minoritários". Mais, inclusive, que os próprios militantes de partidos e organizações de esquerda, que os usam como massa de manobra para ir conquistando o poder nos governos, como mandava Antonio Gramsci.


A diferença é que acreditamos que tais conquistas - liberdade, propriedade privada, e, até, dinheiro - devem ser feitas às expensas de cada indivíduo.


Não somos animais gregários - e você como estudante de biologia deve saber muito bem do que estou falando -, como as abelhas e cupins, que somente sobrevivem em colônias. As experiências gregárias que os humanos sofreram - e muitos ainda sofrem, como em Cuba e na Coréia do Norte - somente trouxeram miséria, fome e destruição. E quem mais sofreu com esta ideologia gregária foram, justamente, os grupos minoritários que você diz que o mercado (o capitalismo) parece abandonar.


E, sim, queremos a manutenção do statu quo, Kelly. Quando eu me pergunto: "Estou livre do que sei, do que não sei, da minha formação, da minha ideologia, dos meus preceitos, dos meus preconceitos, até das minhas utopias?", a resposta é um sonoro não! Estou preso a tudo isso, mas não como quem carrega um fardo. Até admito que torno a minha vida um pouco mais difícil do que poderia ser - apenas mais um na massa que chafurda por estes grotões, aceitando tudo o que os esquerdistas querem-nos impor, ao invés de ir contra a maré de lama em que estamos afundando.


Aprendi, a duras penas, que a revolução não funciona - sim, pois, embora hoje não goste de admitir, já estive do lado deles, em minha adolescência, mas nunca tive síndrome de Peter Pan - e que o ser humano, o indivíduo, deve sofrer uma EVOLUÇÃO em direção ao que há de melhor, quer como pessoas, quer socialmente.


E socialmente, Kelly, o que piora a nossa condição, não é o mercado, o capitalismo. O que piora nossa condição é o Estado - que regula, cada vez mais nossas condições e nossas liberdades.


Quantas vezes ouvimos que o Estado age em nome dos interesses de todos, enquanto os empresários só agem em seu próprio interesse, querendo manter o statu quo, e que, por isto, o Estado deve controlar o empresariado e as elites, para impedir que eles prejudiquem a maioria?


Essa idéia é de uma ingenuidade galopante. Cria-se o mito do Estado benevolente, caridoso, magnânimo, em oposição ao empresariado (ou mais comumente, às eternamente não-identificadas “elites”) que é a raiz de todo o mal.


Ora, Kelly,o Estado atua por meio dos seus agentes, que são originários dos vários segmentos da sociedade. Isso significa que, na média, o Estado é tão moral quanto a sociedade da qual os seus agentes provêm. Não existe razão alguma para imaginar que os agentes do poder estatal, pura e simplesmente por assim sê-lo, sejam moralmente superiores ao conjunto da sociedade. Não existe justificativa moral para que o Estado tenha poderes arbitrários para resolver conflitos entre segmentos da sociedade. Relembrando Lord Acton: “o maior engano que uma sociedade pode cometer é considerar que um cargo público santifica seu ocupante”.


Isso não quer dizer que o Estado não tem o dever de prover ferramentas de resolução de conflitos na sociedade. Essa talvez seja a sua atribuição mais essencial; mas ele deve fazê-lo não de forma ativa, mas por meio de uma infra-estrutura institucional e legal que garanta regras claras, previsíveis e constantes sobre como o Estado atuará em cada tipo de situação. É isto que pessoas como eu, liberais-conservadores, defendem.

3 comentários:

Eduardo Marcos Filho disse...

Ótimo texto Weiss

Kelly Braga disse...

Você diz que no capitalismo existe liberdade, mas essa liberdade na verdade é uma falácia. Liberdade onde? Como pode existir liberdade onde as televisões utilizam a arte para massificar o pensamento do ser humano, para deformar o imaginário infantil destruindo os valores, onde há alienação. Não há liberdade quando o ser humano em nome do capital não consegue compreender a dependência que tem em relação à natureza e polui o próprio meio em que vive. Não disse que o socialismo é a salvação da lavoura, mesmo porque não acredito que tenha existido uma experiência realmente socialista, existiram e existem caminhos com erros e acertos em busca do socialismo.

Gerson Martino disse...

Que texto magoado!

"E, sim, queremos a manutenção do statu quo"

Como assim weiss, que visão de mundo é essa???

Passa amanhã!