terça-feira, 5 de maio de 2009

O Embargo Deve Acabar?

A maioria dos norte-americanos parece rejeitar o embargo comercial dos EUA contra Cuba. Segundo uma pesquisa do Washington Post/ABC, 57% dos norte-americanos, atualmente, se opõem à política. E uma sondagem do Bendixen & Associates mostra que apenas 42% dos cubanos-americanos continuam a apoiá-la.

Tenho me debatido em relação a essa questão durante anos. Até não muito tempo atrás, eu era a favor do embargo. Como um defensor do livre comércio, normalmente qualificaria tal medida como uma restrição inaceitável da liberdade das pessoas em fazer comércio com quem quiser.

Mas eu pensava que negociar com um regime que matou, prendeu, exilou ou amordaçou inúmeros de seus cidadãos durante décadas não era um objetivo digno. Qualquer negociação com Cuba também favoreceria o regime. Afinal, as autoridades já estavam ficando com 20% das remessas dos cubanos-americanos e com 90% dos salários pagos aos cubanos pelos investidores estrangeiros não-norte-americanos.

Por fim, admiti que havia uma inconsistência intolerável em meu pensamento. Nenhuma democracia fundamentada na liberdade deveria dizer a seus cidadãos que país visitar ou com quem negociar, independentemente do governo sob o qual ele viva. Embora os irmãos Castro, Fidel e Raúl, obtivessem uma vitória política em curtíssimo prazo, o embargo não poderia mais ser justificado.

No entanto, esse não é o raciocínio dos críticos mais eloquentes contra as sanções dos EUA. Muitos deles não conseguem sequer mencionar a fraude de um sistema que baseia sua legitimidade na renúncia ao capitalismo e que ao mesmo tempo implora ao capitalismo que venha resgatá-lo. Há também uma hipocrisia afetuosa entre os que condenam o embargo, mas dificilmente dedicam algum momento para denunciar a tirania de meio século da ilha sob os Castro.

Outro subterfúgio risível atribui a catástrofe em que se encontra a economia cubana à decisão de Washington de cortar relações econômicas em 1962, após uma onda de expropriações contra os interesses norte-americanos.

Os amnésticos convenientemente esquecem que, em 1958, a condição socioeconômica de Cuba era igual à da Espanha e à de Portugal e que o padrão de vida de seus cidadãos vinha atrás apenas dos argentinos e dos uruguaios, na América Latina. Muitos dos críticos parecem sofrer o que o escritor francês Jean-François Revel costumava chamar de "hemiplegia moral" – uma tendência de ver falhas em apenas um lado do espectro político. Nunca ouvi os defensores de Cuba reclamarem de sanções contra ditaduras de direita.

Às vezes as sanções funcionam, outras vezes não. Um estudo feito por Gary Hufbauer, Jeffrey Schott, Kimberly Elliot e Barbara Oegg intitulado "Economic Sanctions Reconsidered" (Sanções Econômicas Reavaliadas) analisou dezenas de casos de sanções desde a Primeira Guerra Mundial. Em cerca de um terço, elas funcionaram porque ajudaram a derrubar o regime (África do Sul) ou porque forçaram o ditador a fazer concessões (Líbia).

O arcebispo Desmond Tutu disse-me há poucos meses, em San Francisco, que estava convencido de que as sanções internacionais foram cruciais para derrotar o apartheid em seu país. Nos casos em que o embargo funcionou, as sanções foram aplicadas por muitos países e afetaram regimes que já estavam gravemente desacreditados ou enfraquecidos.

Nas ocasiões em que as sanções não funcionaram – contra Saddam Hussein entre 1990 e 2003, e a Coreia do Norte atualmente – as ditaduras foram capazes de se livrar dos efeitos e se concentrar na população local. Em alguns países, uma espécie de sensação de orgulho ajudou a defender o governo contra as sanções estrangeiras – esse é o motivo por que as medidas aplicadas pela União Soviética contra a Iugoslávia, em 1948, contra a China, em 1960, e contra a Albânia, em 1966, foram na maioria das vezes inúteis.

No caso de Cuba, o regime Castro tem conseguido estimular um sentimento nacionalista contra o embargo dos EUA. Mais importante, tem conseguido compensar muitos dos efeitos das restrições, durante os anos em grande parte porque os soviéticos subsidiaram a ilha por três décadas, porque o regime deu as boas-vindas ao capital canadense, mexicano e europeu após a queda do Muro de Berlim e porque a Venezuela é seu novo patrono.

Mas esses argumentos contra o embargo dos EUA são majoritariamente práticos. Fundamentalmente, o argumento contra as sanções é moral. Não é aceitável que um governo acabe com a escolha individual em questões de comércio e viagens.

A única forma aceitável de um embargo econômico é quando os cidadãos, não os governos, decidem não fazer negócios com uma ditadura, seja a de Birmânia, Zimbábue ou Cuba.

por Alvaro Vargas Llosa

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